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Mariah Carey Unplugged (1992): um acústico que mistura o gospel e o pop mas foi esquecido

 


O álbum gravado em 16 de março de 1992, no estúdio Kaufman Astoria em Queens, Nova Iorque


Mariah até então só tinha dois discos. Em 1988, Mariah Carey, com apenas 18 anos de idade, saiu da casa de sua mãe em Long Island, Nova Iorque, e foi morar em um pequeno apartamento no bairro de Manhattan.

Com sua fita demo com quatro músicas nas mãos, Mariah esforçou-se para conseguir chamar a atenção dos executivos de editoras discográficas em Nova Iorque. Enquanto trabalhava em vários empregos em NY, a jovem continuou a escrever e produzir suas músicas. Depois de meses de dificuldades, conseguiu conhecer a cantora norte-americana Brenda K. Starr, virando sua backing vocal. 

Starr começou a ouvir o material de Mariah, descrevendo sua voz como "brilhante" durante as sessões, e notou a sua "talentosa voz". Ela percebeu que Carey era capaz de alcançar o sucesso, mas só precisava de ajuda para romper o circuito comercial da música.

Foi assim que ela conheceu Tommy Mottola em uma festa, e interessado na moça, ele ficou com uma de suas fitas demo. Como sabemos, além de gostar da demo, Mottola veio a ser produtor e marido de Mariah, a quem hoje em dia, já separada, ela acusa de ser abusivo e autoritário no relacionamento. 

Seu primeiro disco homônimo é uma das coisas mais bonitas e diferentes. Com várias canções que se tornaram hits de sua carreira, como "Visions Of Love" e Someday, o disco impactou os críticos pelo rigor e potência que Mariah tinha com a voz. 

Emotions (1991), seu segundo disco, também agradou os críticos musicais. Uma uma turnê mundial era esperada da cantora, o que não aconteceu no seu álbum de estreia. 

Apesar de aparições esporádicas em premiações, bem como apresentações em programa de televisão, os críticos começaram a acusar a intérprete de ser uma artista de estúdio, não sendo capaz de oferecer ou replicar a mesma qualidade vocal ao vivo, especialmente. 

Na época, em várias entrevistas na televisão, a artista abordou as acusações, alegando que ela não fez turnê por medo das viagens longas e distantes, bem como a tensão em sua voz em executar suas canções consecutivamente. 

Então, buscando calar as acusações de ser uma artista fabricada, Carey e Walter Afanasieff conseguiram combinar uma aparição no MTV Unplugged. O concerto teve o objetivo de mostrar a artista de maneira "crua", desprovida de equipamentos de estúdio, efeitos ou maiores edições. 

Em outras palavras: o disco tem como base o improviso, típico nos corais e nos grupos de louvor das igrejas protestantes americanas. O som se imbrica com a black music e pop que começam a se popularizar na época. Ou seja, balde cheio para quem gosta de vocais. 

Ao todo, são cerca de 10 backing vocals, mais banda, piano e orquestra. O disco, tal como a apresentação ao vivo do acústico, possuem um "clima" próprio. A produção investiu em algo formal e moderno. A lógica funcional é de um coral de igreja, mas as roupas todas pretas, da manda e de Mariah, jaquetas de couro, cordões e brincos brilhantes buscam dar um toque "pop" e "cult", para um tipo de show que poderia ser considerado "careta", por flertar com a lógica de um culto evangélico ou coral da associação de moradores. 

São só 7 músicas: "Emotions", "If "it's Over", "Someday", "Vision of Love", "Make It Happen", "I'll Be There (cover)" e "Can't Let Go"; durando um total de 23 minutos. Entretanto é um tapa. 

Emotions é uma conhecida canção de Mariah, por apresentar um desempenho vocal absurdo da cantora, com agudos que parecem de um pássaro. Apesar do tamanho, a banda não erra uma nota.

Eles intercalam com "If It's Over", uma balada, e é mais ou menos assim que o disco funciona: uma agitada e uma balada. 

Someday é muito legal pelo trabalho coletivo vocal, onde são os backs que puxam o refrão e mantem, e Mariah sola por cima. 

Visions of Love sempre me impressiona pela beleza da canção, mas também pela letra que fala de "sofrer de alienação", ideia comum tanto ao discurso marxista, como a concepção da fé evangélica. Jogada de mestre. 

Make It Happen é minha favorita do disco, por brincar com a concepção de "fazer acontecer", ideia muito presente na ética protestante. Mais uma boa sacada. Mas também pela sonoridade, onde mais uma vez os backs brilham, com direito de um break seguido de solo vocal de Mariah. 

Mariah "lacrou" para cima da crítica. Sei que talvez o disco represente uma época onde a artista não tinha tanta liberdade, e posso estar sendo nostálgico. Mas tempos onde os supostos "cristãos" estão tão distantes das ideias de amor, paz, comunhão é piedade, é sempre escutar e ver um show onde esses ideias conseguiam se encontrar com o pop e fazer sucesso. Para que, nunca viu, vale a pena. 

Vocês podem assistir o show completo clicando aqui  e bom fim de semana!

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